Poucos artistas no Brasil apostam no formato híbrido em suas apresentações — misturando técnicas de live com DJ set — menos ainda são aqueles que realmente dominam a técnica e conseguem performar de forma sólida e dinâmica como o catarinense tarter. O artista cresceu e fez escola nas melhores pistas do Brasil, presenciando de perto a performance de grandes artistas do cenário e hoje é sempre um dos destaques da noite quando se apresenta; ele já soma passagem por venues icônicos do país como Warung Beach Club, Tribaltech, D-EDGE e Club Vibe.

Tarter é um aficcionado por tecnologia e encontrou na música o espaço ideal para expressar seus ideias e sentimentos. Nesta entrevista exclusiva que tivemos com o artista, ele explica um pouco mais sobre o formato que se apresenta (incluindo detalhes do MODEL1), conta sobre os processos executados pelo selo que ele comanda ao lado de Kleber, Urban Soul, e também compartilha algumas novidades para os próximos meses. Mais um Papo Groove bem bacana! Confira:

Olá, tarter. Obrigado por topar conversar com a gente. Achamos sempre interessante conhecer a visão do artista a respeito da cena underground. Você é um artista de techno há certo tempo, como você enxerga a evolução do estilo no Brasil atualmente? Existe alguma outra tendência acontecendo no momento?
Olá, amigos! Fico muito feliz em estar respondendo essa entrevista para a Groove Mag, lembro do suporte de vocês no começo da minha carreira profissional e sempre sou grato por tudo que fizeram por mim. Então, vamos lá! A cena techno nacional vem crescendo nos últimos anos, temos alguns big names já estourados no mundo todo: Victor Ruiz, ANNA e Alex Stein são apenas três nomes que levam essa bandeira mundo afora. Eu fico muito feliz em ver isso acontecendo, trabalho há mais de 10 anos com eventos, quase oito como DJ e sempre vesti a camisa do techno, nada mais justo e animador do que ver esse estilo sendo difundido em nosso país do coração. Hoje vejo o tech house bem forte no Brasil e espero que tenhamos a união no meio underground para que consigamos consolidar mais ainda os eventos por aqui, além de poder mostrar para mais pessoas nossos sons que possuem uma similaridade bem próxima, com vários elementos parecidos.
Sobre suas apresentações… qual o motivo principal que te levou a apostar no formato híbrido? Você lembra do momento em que tomou essa decisão?
Sempre gostei da questão de inovação, principalmente nas minhas apresentações. Faz pelo menos seis anos uso mais de dois decks para tocar, vi com a criação do meu live a oportunidade de unir minhas produções com as tracks prontas que eu já tocava de outros produtores em um tipo de setup que posso mostrar a experiência de criação do live com as técnicas de discotecagem de um DJ set. Essa é a ideia. O dia também me lembro muito bem: 02 de janeiro de 2009. Estava no front da pista inside do Warung, colado no vidro vendo Richie Hawtin tocar, senti uma sensação de querer saber como tudo aquilo funcionava, pq ele não usava CDJs, mas era um artista muito aclamado. Que nostalgia!
Você pode falar um pouquinho sobre o MODEL1, presente nas suas performances? O que ele possui de diferente de outros mixers e quais as vantagens que ele te traz?
Esse mixer é simplesmente sensacional. Ele foi pensado para ser usado em apresentações do jeito que gosto, além de ter seis decks diretos, mais dois sends e returns, ele tem também um EQ para você “esculpir” o som (esse termo é usado nessas funções do mixer mesmo). Você consegue dar um ganho ou cortar frequências pré-definidas no knob do mixer, dá para explorar os filtros de baixa e alta para os canais, além de ser todo analógico, utiliza as saídas e entradas DB25, que você resume todos os cabos em apenas dois plugs, se tiver uma placa com elas então, adeus cabos! Esses são os maiores diferenciais do mixer. Ele abre um leque gigantesco de possibilidades para criar coisas ao vivo. Como eu amo ele! [risos]

Pela Urban Soul você já lançou grandes artistas, com destaque para os releases recentes de Boghosian e Anderson Noise. Como tem sido o processo de gerência da gravadora? Como é definido o que entra ou não no catálogo?

O processo é dividido entre eu o Kleber, mas boa parte das ideias e organização parte do Alan Medeiros, que faz toda parte de mídia e organização da minha carreira e também da gravadora através da Beats n’ Lights. Ele consegue bons contatos, desde a abertura da gravadora, parceria com a distribuidora, contatos para remixes e EPs, etc. No momento tenho voltado a maioria do tempo para outros projetos que estou desenvolvendo já visando o ano que vem. Estamos com uma média de um lançamento a cada dois meses, 2019 está quase no fim e estamos com dois lançamentos agendados. Em breve queremos resgatar os showcases que já fazíamos anteriormente e captar mais artistas para o catálogo. Se você  é um produtor de techno e está lendo até aqui, pode enviar suas demos pra gente! Para a seleção das faixas, analisamos se o som adequa-se a nossa principal característica techno, com alma urbana, música com personalidade e profissionalismo.
E no caso de tarter como produtor, poderemos ver alguma novidade em breve? Quais são suas principais influências quando você está no estúdio?
Estou trabalhando em um EP que sai em uma gravadora muito legal em breve, serão três faixas com BPMs um pouco mais elevados, característica que o mercado vem absorvendo bem nos últimos tempos. Em paralelo estou preparando um EP na mesma pegada para o novo selo do grupo D-EDGE, batizado de D-EDGE Records Black. Tenho também mais algumas demos espalhadas por algumas gravadoras, que devem somar umas 10 tracks de BPMs variados, do 126 ao 133, na pegada techno minimalista como sempre. Minhas influências variam muito a cada ano, nos últimos dois tive várias novas experiências com artistas que minha mulher me indicou, ela que gosta de um som mais pesado, com os BPMs lá em cima, isso me ajuda a moldar meu estilo para as novas tendências do mercado, mas claro, sem perder minha identidade.
Que outros projetos ou ideias você tem em mente para o próximo ano? Qual será o seu foco como artista e quais objetivos você busca alcançar em 2020?
Além de continuar contribuindo para o desenvolvimento da cena aqui no Brasil, levando conhecimento para todos que conseguir, estou trabalhando para montar um live 2.0, uma versão maior e mais complexa do meu live (não é o híbrido). Também estou planejando uma apresentação junto de um cara bem foda aqui do Brasil. Penso em voltar a produção do meu álbum e, se tudo der certo, realizar a minha primeira tour internacional. Outra ideia é dar vida a uma coleção de camisetas para DJs e entusiastas da cena, fora algumas outras coisinhas que eu não posso soltar ainda…
“Abuse of your creativity and technologies”. Você leva essa frase como um mote de vida? O que ela representa para você? Obrigado pela conversa!
Eu mesmo criei essa frase. Pretendo levar ela pro resto da minha vida, acho que a pessoa quando assume o compromisso de levar arte para as pessoas deve abusar da criatividade e de tudo que temos ao nosso alcance. É dessa forma que conseguimos fazer diferente e incentivamos mais pessoas a conhecer o novo e o velho do jeito certo. Sempre fui ligado a tecnologia, desde criança, então essa frase me identifica muito! Agradeço mais uma vez pelo espaço, podem contar comigo sempre. Espero que tenham gostado do bate-papo assim como eu.
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